quinta-feira, 1 de julho de 2010

A força da vida



Depois de um exaustivo dia de trabalho, aguardava na famigerada fila a minha vez de entrar no ônibus. Logo em frente estava congestionado – de pessoas, não carros. Policiais, motoristas, cobradores. Pensei que fosse tentativa de assalto ou algo do tipo, pois havia duas viaturas, fechando a passagem.

A primeira reação é se irritar. Afinal, todos estavam cansados e querendo voltar para casa. Os olhares curiosos cercavam o ônibus parado em frente ao que eu estava. O cobrador entrou abismado dando a notícia: “A mulher tá tendo nenê lá dentro”. Aí o alvoroço foi geral. Era gente querendo ver, dar palpite, ligar para o Resgate. Meu instinto de repórter me instigou, por uns segundos, a ir até lá e conseguir mais informações: quem era aquela mulher? Ela estava sozinha? Já estava com nove meses? Passou por alguma situação que poderia antecipar o trabalho de parto? Onde planejava ter o bebê? Era seu primeiro filho?

Então me coloquei no lugar dela. Imagine só você estar em trabalho de parto num local nada apropriado e em vez de aparecer um médico, uma parteira ou um curandeiro vem uma jornalista? Ah, desencanei. Fiz uma prece para que tudo corresse bem e que a criança viesse ao mundo com saúde e abrisse os olhos de seus pais para o mundo.

O ônibus em que eu estava saiu. Consegui ver de relance a mulher lá dentro cercada de curiosos. Segundos depois as viaturas ligaram suas sirenes e saíram em disparada. Deviam estar seguindo para o hospital mais próximo. Não soube nada sobre o bebê e sua mãe. Mas tive uma certeza: a da força da vida, que vem e vai quando a gente menos espera. O que incomoda e faz refletir é que não temos nenhum controle sobre isso. Simplesmente acontece.

Um comentário: